AUTOBIOGRAFIAS, ETNOGRAFIAS E OUTRAS HISTÓRIAS: MIGRAÇÕES E EXPERIÊNCIAS NA AMAZÔNIA

Resumo

O presente trabalho deriva-se de minha tese de Doutorado em Educação pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, uma pesquisa realizada com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES). No ano de 2016 intensificou-se o número de entradas de venezuelanos no país na fronteira brasileira com a Venezuela, no estado de Roraima. Esse movimento, percebido como deslocamento migratório forçado, levou o país à criação da Operação Acolhida, uma resposta humanitária governamental e interagencial que inclui a criação de abrigos institucionais para acolher essas pessoas bem como práticas de integração local. Se perpetuando até os dias atuais, a operação segue acolhendo venezuelanos de diferentes idades e contextos, muitos ainda em processo de adaptação e integração social e econômica no Brasil. Com base nesse contexto, esse trabalho apresenta considerações e resultados prelimitares do estudo que teve como problema de pesquisa a seguinte questão norteadora: O que significa aos venezuelanos ser um migrante e/ou refugiado no Brasil? O objetivo geral, dessa forma, é compreender o que significa aos venezuelanos ser um migrante e/ou refugiado no Brasil vivendo em um dos abrigos humanitários em Roraima. A hipótese que apresento são duas: 1) a migração de venezuelanos ao Brasil se localiza em um entrelugar (Bhabha, 1998), um lugar de espaço-tempo não-físico de hibridização entre culturas; e 2) A migração não termina quando chegam no Brasil, mas continua se perpetuando de diversas maneiras, nas idas e vindas da Venezuela ao Brasil, na vida constituída no abrigo e naquela que se desenvolve fora dele, no acesso às políticas públicas, entre outras. Tomo como base teórica os estudos de Paul Ricoeur (1994, 2004), especificamente a tríplice mimese hermenêutica (prefiguração, configuração e refiguração), que consiste em um processo de constituição de si mediado pelo tempo e narrativa (Ricoeur, 1994). Baseio-me também nos estudos com/sobre narrativas nas trilhas deixadas por Ricoeur (1994), Oliveira (2011) e Benjamin (1987) e utilizo a Etnografia como aporte teórico-metodológico com base em Malinowski (1976). Como procedimentos metodológicos, além da escrita etnográfica em um diário de campo, adaptei a metodologia do Grupo Reflexivo com base em Passeggi (2011, 2023) e Gabriel (2011) para socialização com os participantes e coleta de suas narrativas. Em relação às análises dos dados, tomo como base o desenvolvimento de eixos de investigação com base em Nóvoa (1988), além de Szymanski (2004), com a identificação de eixos. Gabriel (2011) auxilia-me na triangulação desses dados, um processo sempre mediado pela hermenêutica de Ricoeur (1994). Os resultados dessa investigação são contribuições interdisciplinares para o campo das Ciências Humanas, em especial na área de Educação, e no campo acadêmico uma compreensão mais específica em torno das discussões sobre/com migrantes e refugiados no Brasil, especificamente venezuelanos na Amazônia. Para a comunidade de migrantes e refugiados, um aprofundamento da discussão sobre ser um migrante e/ou refugiado no Brasil e suas implicações sociais, educacionais e humanitárias.