O ESQUECIMENTO DE SEGUNDA ORDEM: SATURAÇÃO, ARQUIVO E A CRISE DO SIMBÓLICO NA ERA DIGITAL
DOI:
https://doi.org/10.63330/armv1n2-002Palavras-chave:
Esquecimento de segunda ordem, Saturação simbólica, Arquivo digital, Ética da escuta, Filosofia contemporâneaResumo
Este artigo propõe o conceito de esquecimento de segunda ordem como uma categoria filosófica original que descreve a mutação da memória na era da saturação técnica e simbólica. Diferente do esquecimento clássico — vinculado à ausência, à repressão ou ao trauma —, o esquecimento contemporâneo não resulta da falha em lembrar, mas do excesso indiscriminado de lembrança técnica, promovido por bancos de dados, algoritmos, redes e dispositivos que arquivam tudo, inclusive o que não foi simbolizado. Este novo esquecimento, marcado pela hiperdisponibilidade, dissolve o sentido, desativa a narrativa e compromete a constituição subjetiva. A metodologia adotada é teórico-conceitual e hermenêutica, com articulação de diversas tradições filosóficas: o esquecimento ativo em Nietzsche, a memória narrativa em Ricoeur, o esquecimento do Ser em Heidegger, o arquivo em Derrida, a positividade em Byung-Chul Han, a inoperância em Agamben, a escuta ética em Levinas e a tradição em Gadamer. A tese sustenta que a saturação do registro técnico elimina a negatividade simbólica necessária à experiência, transformando o símbolo em interface e o conhecimento em performance. Como dramatização da hipótese, recorre-se à obra O Último Grão de Areia (ISBN: 978-65-266-1447-7), que encena uma vila fictícia onde tudo é arquivado, mas nada permanece como vivência significativa. Conclui-se que a filosofia, diante da falência do simbólico e da memória curatorial, é convocada a escutar o vestígio, sustentar o fragmento e curar o que resiste à codificação total. No tempo do excesso, resistirá quem souber escutar o que ainda pulsa.
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