TERRITÓRIO, LÍNGUA E EXCLUSÃO: A ESCOLA COMO PALCO IDENTITÁRIA NA PERIFERIA URBANA
DOI:
https://doi.org/10.63330/aurumpub.018-005Palavras-chave:
Território, Linguagem, Exclusão escolar, Identidade, Periferia urbanaResumo
O presente artigo se propõe a analisar a escola na periferia urbana não apenas como um espaço de ensino-aprendizagem, mas como um palco identitário e um microcosmo onde se manifestam e se reproduzem as tensões sociais, econômicas e culturais da cidade desigual. O estudo investiga a interconexão crítica entre três elementos centrais: o território de origem do estudante, a linguagem por ele utilizada (socioletos e gírias) e os mecanismos de exclusão que atuam no cotidiano escolar, buscando compreender como essa dinâmica molda as identidades dos alunos. A fundamentação teórica mobiliza a Geografia Crítica (Milton Santos, Rogério Haesbaert) para conceituar o território periférico como um espaço de poder e resistência; a Sociologia da Educação (Pierre Bourdieu) para discutir os conceitos de habitus e Capital Linguístico; e a Sociolinguística (Marcos Bagno) para desmistificar o preconceito linguístico como ferramenta de exclusão social. A análise desenvolvida demonstrou que a escola, ao exigir a adesão irrestrita à norma padrão e ao impor um currículo oculto que nega a cultura e a experiência do território periférico, opera uma violência simbólica. O estudante é forçado a negociar uma dupla identidade, onde a correção de sua fala é percebida como uma punição social e a negação de sua origem. O preconceito contra a linguagem e o olhar estereotipado contra o "corpo periférico" contribuem significativamente para o silenciamento e o sentimento de não pertencimento, reforçando a reprodução da desigualdade. Conclui-se que a transformação da escola periférica em um espaço verdadeiramente inclusivo exige o reconhecimento e a legitimação da diversidade territorial e linguística. Isso implica a capacitação de professores como mediadores críticos e a adoção de práticas pedagógicas que utilizem o capital cultural e a voz da periferia como pontos de partida para a emancipação e a afirmação identitária. A luta no palco escolar é, em essência, uma luta pela validade e dignidade da identidade periférica.
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