TECNOFEUDALISMO EM IMAGENS: DAS ESTRUTURAS SENHORIAIS AOS REGIMES DIGITAIS EM BRUEGEL E BANKSY
DOI:
https://doi.org/10.63330/aurumpub.012-022Palavras-chave:
Tecnofeudalismo, Imagens de servidão, Crítica visual, Dominação simbólica, Bruegel e BanksyResumo
O presente artigo propõe uma leitura comparativa entre “Os Provérbios Flamengos” (1559), de Pieter Bruegel, e “Mobile Lovers” (2014), de Banksy, tendo como horizonte interpretativo a hipótese do tecnofeudalismo. A partir da análise dessas imagens, busca-se demonstrar como formas visuais de crítica social, separadas por quatro séculos, convergem na representação simbólica da servidão sob diferentes regimes históricos. Em Bruegel, a encenação fragmentária de provérbios populares revela uma ordem feudal sustentada por práticas repetitivas e comportamentos padronizados, em que o riso não é subversão libertadora, mas espelho de uma racionalidade circular e alienante. Já em Banksy, a figuração contemporânea da dependência digital expressa na imagem de um casal que ignora o contato físico em favor das telas, evidencia o aprisionamento subjetivo promovido pelas plataformas digitais. Em ambos os casos, a crítica visual não se estrutura por uma narrativa unívoca, mas por uma montagem de signos que expõe as camadas simbólicas da dominação. Assim, argumenta-se que o tecnofeudalismo não representa apenas um deslocamento das formas de exploração econômica, mas também uma continuidade de regimes sensíveis e simbólicos, nos quais a sujeição se perpetua sob os mantos dos disfarces: do servo da gleba ao usuário conectado. As imagens, mais que documentos visuais, tornam-se dispositivos críticos que desvelam os mecanismos estéticos, sociais e políticos da servidão.
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