A TRILOGIA DO SAGRADO: A CONSTRUÇÃO SIMBÓLICA DO BRASIL COLONIAL NO IMAGINÁRIO PORTUGUÊS
DOI:
https://doi.org/10.63330/aurumpub.012-007Palavras-chave:
Brasil Colonial, Simbologia Religiosa, Paraíso, Inferno e PurgatórioResumo
O artigo investiga a construção simbólica do Brasil colonial nos séculos XVI e XVII, articulada em torno da tríade imagética Paraíso, Inferno e Purgatório, categorias que organizam a cosmovisão teológica dos colonizadores portugueses. Apoiado nas concepções do sagrado em Rudolf Otto e Mircea Eliade, e na dimensão alegórica do mirabilis em Jacques Le Goff, interpreta-se a Terra Brasilis como espaço simultaneamente mítico e teológico, atravessado por fascínio, temor e promessas escatológicas. A ambivalência do território projeta-o ora como lugar de regeneração e abundância, ora como cenário de danação e medo. A religiosidade orienta práticas de catequese, disciplinamento e apropriação territorial, convertendo o espaço colonial em campo de disputa entre o sagrado e o profano. Com base na abordagem rizomática de Deleuze e Guattari, a América portuguesa é compreendida como espaço liminar, zona de fronteira que escapa a classificações fixas e revela um imaginário fluido, atravessado por afetos e dispositivos de poder em constante metamorfose.
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